Home Palavra do Sacerdote A minha pátria é como se não fosse

A minha pátria é como se não fosse

Estava em Caracas, Venezuela, para um curso. Fiquei por lá um bom tempo. Num domingo de folga, jogava a seleção brasileira contra a seleção venezuelana. A família onde me hospedava deu-me de presente um ingresso para ver o jogo. De repente, entram em campo os nossos canarinhos. Um locutor anuncia os hinos nacionais e os hasteamentos das bandeiras de cada nação. A banda deu os primeiros acordes do Hino Nacional.

A bandeira do Brasil começou subir e tremular nos céus de Caracas. Meu coração começou palpitar a mil por hora. Um misto de muita saudade, emoção, choro, alegria e êxtase invadiram minha alma. Perguntei-me: Que é isso que estou sentindo? Qual o significado de tais reações e emoções? Fui pensando comigo e descobri uma coisa. Aquilo era sinal de amor à minha pátria. Lembrei-me de tantos e tantos exilados, especialmente nos tempos da ditadura militar, que cantaram seu amor à pátria. Tentei recordar o poema “Pátria Minha”, de Vinicius de Moraes, que, uma vez, nas aulas de literatura brasileira, tentei decorar. Nele buscava consolo e entendimento dos sentimentos que rolaram em mim.

O amor à pátria encontra-se entre os maiores e belos amores da vida. Esse sentimento está marcado no coração de cada cidadão. Por esse amor vivemos, sonhamos, damos nossa vida e somos capazes de grandes atos heróicos. A pátria é um bem fundamental, cujo valor só é apreciado quando vemo-nos privados dele.

Não é sem razão que Vinicius diz no Pátria minha: “A minha pátria é como se não fosse, é íntima doçura e vontade de chorar... Se me perguntarem o que é minha pátria direi: Não sei. De fato, não sei como, por que e quando a minha pátria... Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água que elaboram e liquefazem a minha mágoa em longas lágrimas amargas”.

A pátria traz em relevo um sentimento complexo, traduzido por patriotismo. Este, por sua vez, vem carregado de vários componentes. Especialmente aquele amor puro, que não visa levar vantagem em nada e sobre ninguém. Sem inveja, nem rivalidades de outras pátrias maiores, mais poderosas, com maiores avanços científicos.

Todos sabemos que o verdadeiro patriotismo está além, muito além, de simples emoções. O patriotismo, como amor autêntico, deve expressar-se em obras na construção do bem comum, em vista de uma nova ordem política, social e econômica. Porém, sem estreiteza de espírito. O verdadeiro patriotismo, como amor autêntico, abre-se a toda a humanidade, a toda diversidade, aos vários matizes culturais e raciais. Torna-se um sentimento supranacional. Engaja-se na rede de relações colaborativas em escala mundial. Leva-nos a entender e assumir o mundo todo como nossa grande família.

Pe. Júlio Antônio da Silva

Fique Ligado!
Link para o livro completo "A Igreja que brotou da mata" em PDF